Desde a década de 70, a expansão do garimpo ilegal no Norte do Brasil é um grande problema para a população indígena. No caso dos Yanomamis, além de provocar o desmatamento, a contaminação de rios e problemas à saúde dos nativos, o garimpo tem fomentado conflitos armados e ameaças permanentes. Hoje, são 20 mil garimpeiros ilegais na região, em contraste com 300 mil indígenas vivendo em comunidades espalhadas pelo território.

A luta contra o garimpo e a violência ao longo da história, liderada por Davi Kopenawa (líder político yanomami), levou à busca pela demarcação das terras Yanomamis. O processo envolveu muita pressão internacional e levou 15 anos para se concretizar, sendo firmado nos anos 90, pelo ex-presidente Collor. A demarcação aumentou o controle governamental e minimizou, em parte, as atividades ilegais na região, mas não resolveu o problema.

A geopolítica amazônica é, de fato, um tema complexo e desafiador. Mas há outros fatores que contribuem diretamente para a situação enfrentada pelos yanomamis e o principal deles é a visão do indígena como um entrave para o desenvolvimento econômico.

Fotos: URIHI – Associação Yanomami

Outro aspecto está relacionado a um pensamento, infelizmente, muito comum: a ideia de que “o índio” – como uma figura distante e caricata – tem que ser assimilado à “civilização”, quando, na verdade, o poder público deve garantir aos povos originários o direito de posse exclusiva de suas terras demarcadas (uma vez que essas áreas fazem parte de um conjunto que inclui as Unidades de Conservação da Natureza, Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais que, entre outros benefícios, proporcionam a conservação da diversidade biológica nativa em seu habitat natural).

“Qual a importância de valorizar os povos indígenas, inclusive em regiões onde estão em menor número?” Esta pergunta é muito importante.

A grande maioria das escolas do país comemora, no dia 19 de abril, o “Dia do Índio”. Esta não é uma celebração didática e palpável, pois a visão transmitida é a de que esses povos estão vivendo apenas em regiões distantes, nas florestas do Norte e Nordeste do país, representando um pensamento construído a partir de estereótipos que não fica restrito apenas às crianças e acaba se tornando um senso comum. Reverter essa interpretação é imprescindível e depende, principalmente, de um trabalho de reeducação da sociedade.

Um dos caminhos é promover a valorização dos povos indígenas desde a pré-escola, o que tende a enriquecer a visão das famílias e traz à tona debates sobre preservação ambiental, cultura, educação, valores e respeito às diferenças. Também é importante, nesse contexto, resgatar a história dos primeiros habitantes do território brasileiro e a enorme contribuição deles para a cultura atual do país. Os saberes e a cultura tradicional são de suma importância na formação da sociedade brasileira e o contato com esses povos pode gerar um resgate do conhecimento que detêm.

Cabe destacar que os povos indígenas são especialmente vulneráveis onde ocorrem em menor número e nas regiões mais urbanizadas e industrializadas, como é o caso das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Assim, é possível dizer que, nessas localidades, a cultura dessas populações minoritárias está ameaçada (Observatório do Terceiro Setor 2017, ONU 2017). Com isso, importantes conhecimentos tradicionais podem ser perdidos e uma parcela relevante da identidade cultural brasileira pode ser esquecida. Portanto, reafirmar a herança cultural indígena dessas regiões de menor predomínio é relevante para reduzir os impactos negativos sobre essas comunidades.

Nós, da Rede Mondó, acreditamos que investir na educação e conscientização das novas gerações é o caminho capaz de reverter este quadro. Através do fortalecimento da comunidade escolar, juntos podemos educar as crianças e jovens nortistas a lutarem por esta causa e ocuparem os espaços de influência a fim de construir um Brasil mais justo e que respeite e proteja os povos originários e Amazônia.

Fonte: Artigo “Por que há necessidade de falar sobre povos indígenas nas regiões em que essa população é minoritária?”, do projeto de extensão “Ação Verde” – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, campus ITR da cidade de Três Rios.