Lidar com as mais variadas emoções que cercam o cotidiano (estresse, raiva, dúvida, desânimo, aflição, por exemplo) é difícil para qualquer pessoa. Quando se é criança ou adolescente, contudo, essas questões assumem um papel ainda mais desafiador e, nem sempre, os sentimentos expressados nessas fases da vida são validados.

Por isto, falar sobre saúde mental é imprescindível a qualquer momento. No mês de setembro, contudo, por causa da campanha “Setembro Amarelo”, cujo foco é a prevenção ao suicídio, o assunto fica ainda mais em evidência.

Ainda que a campanha seja importante para todos os públicos, é essencial desenvolver ações voltadas a crianças e adolescentes. Afinal de contas, é nesta fase do desenvolvimento que eles são mais vulneráveis a problemas de saúde mental.

DADOS

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 7 crianças e adolescentes sofre de algum problema de saúde mental. Os mais comuns incluem depressão, ansiedade, transtornos alimentares e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). 

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%.

Também segundo a OMS, o suicídio já é a segunda causa de morte de brasileiros que têm entre 15 e 29 anos. A depressão atinge cerca de 12 milhões de pessoas no Brasil e, a cada dia, mais jovens vêm sendo diagnosticados com a doença.

Em Breves (PA), infelizmente, a realidade não é diferente: em 2021, o município apresentou o maior número de suicídios dos últimos quatro anos, com 12 casos.

Em todo esse período, foram 27 casos no total. Isso leva a cidade a ter uma taxa de 6,75 casos por 100 mil habitantes, enquanto a média nacional, em 2020, foi de 5,5%.

Apenas no primeiro semestre deste ano, o município já ultrapassou em mais de 50% o número de casos do ano de 2022. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde de Breves1.

COMO TRABALHAR O TEMA

A Rede Mondó trabalha a partir do Marajó para criar soluções sociais inovadoras e colaborativas para desenvolvimento de territórios vulneráveis da Amazônia através da comunidade escolar.

Uma vez que é dentro da escola que crianças e adolescentes passam boa parte do dia e vivem situações marcantes de socialização e de expectativa, é essencial que este ambiente também seja acolhedor nos aspectos físico, curricular e institucional.

É imprescindível que o estudante se sinta à vontade para expressar seus sentimentos e emoções, encontre ambientes e educadores com os quais seja possível refletir e dialogar sobre o que sentem e como reagem.

Afinal de contas, não é exagero algum imaginar que os problemas de saúde mental podem ter um impacto negativo não só no desempenho escolar, mas nas relações sociais e na qualidade de vida que os estudantes terão quando adultos.

A campanha do “Setembro Amarelo”, apesar de ter um recorte temporal, proporciona uma oportunidade para iniciar uma política permanente de cuidado com a saúde mental. Essa política envolveria não apenas os estudantes, mas também os professores, demais funcionários das escolas, os pais e responsáveis, e, é claro, toda a comunidade escolar.

Separamos quatro sugestões de ações que podem ser desenvolvidas neste sentido. Vamos conferi-las?

I. Saúde Mental não é tabu

Por mais que falar sobre ansiedade e depressão, por exemplo, seja algo recorrente, a saúde mental ainda é cercada por tabus. Falar das doenças mentais naturalmente e aderir a campanhas como o Setembro Amarelo (distribuindo cartazes, fitinhas amarelas, promovendo palestras e workshops) vai contribuir para naturalizar as discussões sobre este assunto.

II. Espaços de acolhimento e integração

A escola, eventualmente, pode ser o único ambiente onde a criança ou o adolescente terá a oportunidade de expressar os seus sentimentos. Assim, é interessante, se for possível, separar um espaço físico (uma sala, por exemplo) para que o estudante possa se acalmar, relaxar e refletir.

É importante criar grupos permanentes de debate e discussão sobre saúde mental, mas disponibilizá-los, também, para professores e funcionários.

Manter canais abertos ao diálogo e suporte vão fortalecer ainda mais o vínculo entre o estudante e a escola.

III. Atividades física e extra-classe

Já é consagrada a tese de que a atividade física auxilia nos sintomas de ansiedade, depressão, promove a socialização e melhora a aprendizagem. Portanto, crie, incentive e estimule a participação dos estudantes em atividades, gincanas e competições esportivas e culturais. Os benefícios para o bem-estar são incontestáveis.

IV. Ir além das salas de aula

Inclua a família nas ações promovidas com o objetivo de promover o bem-estar físico e mental dos estudantes.

Quando a escola gera impacto positivo também fora das salas de aula, ela engaja todo o seu entorno naquilo que acredita. Falar sobre saúde mental aos pais e responsáveis também conscientizará mais pessoas sobre essas questões e ampliará as oportunidades nas quais as crianças e adolescentes podem pedir ajuda.

O ANO INTEIRO

Falar sobre saúde mental com crianças e adolescentes é um passo importante para a prevenção aos problemas de saúde mental e ajudá-los a superar essas questões.

As escolas podem ter um papel fundamental nessa missão ao promover a conscientização e o diálogo sobre esse tema. Isso envolve não apenas os educadores, gestores e demais funcionários das escolas, mas também toda a família e a comunidade escolar.

É bom que isto ocorra em setembro, mas que também se estenda por todo o ano.

Foto: Freepik

  1. Saúde mental: novo alerta no Arquipélago do Marajó. Disponível aqui. ↩︎