As enchentes desencadeadas pelas tempestades que assolaram o Rio de Janeiro nas últimas semanas trouxeram à tona, mais uma vez, a discussão sobre o Racismo Ambiental1. Embora tenha dominado as tendências nas redes sociais, este termo não é novo. Ainda que alguns enfrentem dificuldades em conectar o racismo ao meio ambiente e às mudanças climáticas, a relação é clara e crucial para entendermos os desafios atuais.

No Brasil, populações negras, quilombolas, indígenas e ribeirinhas sofrem as maiores consequências das chuvas em comunidades urbanas e rurais. A situação é agravada pela falta de saneamento básico, coleta de lixo, esgotamento sanitário, acesso à água potável e zoneamento urbano inadequado.

Esta discussão não se limita apenas a quem sofre diretamente os eventos climáticos, mas destaca como os impactos afetam, de maneira desproporcional, certos estratos populacionais. Apesar do debate ressurgir durante o caos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e receber atenção, ainda que discreta, na COP-282, é crucial ampliá-lo, especialmente para a Floresta Amazônica.

FÁBRICA DE CHUVA

A pesquisadora Luciana Vanni Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ressalta que a Amazônia desempenha um papel crucial como uma “fábrica gigante de chuva”3, essencial para resfriar a temperatura. A degradação ambiental e social da floresta desequilibra esse papel, tornando o regime de chuvas irregular, prolongando períodos de seca e intensificando tempestades, resultando em um quadro que ilustra claramente o Racismo Ambiental.

Além do debate nas redes sociais, é fundamental ressaltar que a minimização das consequências do Racismo Ambiental requer a criação de políticas públicas que considerem as desigualdades sociais e econômicas, garantindo a participação das comunidades afetadas nas decisões, promovendo a educação ambiental e valorizando o conhecimento tradicional.

A pesquisadora Nazaré Rebelo destaca que “a floresta em pé dá lucro e gera transformação”4, enfatizando a importância de políticas públicas que reconheçam isso como um passo fundamental para a sustentabilidade do planeta.

EDUCAÇÃO

A Rede Mondó, atuando a partir de Breves, no Arquipélago do Marajó (PA), exemplifica esse esforço ao trabalhar para fortalecer as pessoas e impulsionar a melhoria da educação a fim de promover uma transformação social, econômica, ambiental e cultural nas comunidades vulneráveis da Amazônia.

Este é um trabalho que vem sendo reconhecido nacional e internacionalmente. Tanto que o portal Observatório do Terceiro Setor listou a Rede entre cinco organizações brasileiras5 que atuam para combater o racismo ambiental ao lutar contra as desigualdades e contribuir para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.

Organizações desta área desempenham um papel vital com iniciativas, projetos e ações. No entanto, é responsabilidade de toda a sociedade promover essa pauta e inseri-la na agenda climática mundial.

À medida que nos aproximamos da COP-30 em Belém (PA), surge uma missão crucial para todos: educar a população, especialmente aquela diretamente afetada pelo Racismo Ambiental, sobre a importância dessa discussão além das redes sociais, posicionando-a como uma das principais prioridades do Brasil na conferência.

Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Ag. Brasil

  1. Entenda a relação de racismo ambiental e enchentes no Rio de Janeiro – Agência Brasil ↩︎
  2. Como o racismo ambiental deve ser tratado na COP30? – Miriam Leitão/ O Globo ↩︎
  3. Racismo ambiental ameaça populações vulneráveis – Colab PUC Minas ↩︎
  4. Grandes projetos favorecem racismo ambiental na Amazônia – O Liberal (PA) ↩︎
  5. Desafios e soluções: o terceiro setor no combate ao racismo ambiental – Observatório do Terceiro Setor ↩︎