Embora esteja sob os olhos do mundo, a Amazônia ainda é pouco compreendida por nós brasileiros. Para além de toda a mitologia que cerca a floresta, infelizmente o que mais se ouve falar dela, no noticiário comum, é sobre o desmatamento. Este é um aspecto de grande relevância, considerando a conjuntura atual e o papel que esse ecossistema desempenha no Brasil e no equilíbrio climático do planeta.

Com a realização da Conferência Mundial do Clima da ONU (COP 30) em Belém (PA), no próximo ano, é indiscutível que o brasileiro entenda a importância e a dimensão do que será discutido. Nessa ocasião, o mundo inteiro estará prestando atenção ao Brasil.

Um dos caminhos para isto, claro, é ler. Neste 23 de Abril, Dia Mundial do Livro, separamos nove obras que vão te ajudar a entender melhor a importância da nossa floresta e o quanto o Brasil pode contribuir para mudar o curso dessa história — que sinaliza para um desfecho nada feliz se não agirmos logo.

1. A Queda do Céu, de Davi Kopenawa e Bruce Albert

Neste livro, um xamã Yanomami compartilha sua vida e luta contra a devastação da Amazônia pelo homem branco desde os anos 1960. Baseado em suas palavras, o relato aborda sua vocação desde a infância, o impacto dos brancos na floresta e a jornada do líder indígena para proteger o próprio povo. Revela-se uma obra contundente sobre o choque cultural, a perda ambiental e uma reflexão crítica sobre a noção de progresso defendida pelos invasores, denominados pelos Yanomami como “povo da mercadoria”.

2. Ideias para Adiar o Fim do Mundo, Ailton Krenak

Também escrito a partir do olhar indígena, este livro critica a visão que separa a humanidade da natureza, apontando-a como a origem do desastre socioambiental do Antropoceno. Krenak, líder indígena nascido na região do Vale do Rio Doce, defende a resistência indígena pela valorização da diversidade e a recusa da superioridade humana. Ele destaca a importância de preservar o prazer de viver em sociedade, dançar e cantar, em contraste com a intolerância gerada pela ausência de sentido na vida moderna. Desde seu emblemático discurso na Assembleia Constituinte em 1987, Krenak se destaca como um dos principais pensadores brasileiros, e sua mensagem de adiar o fim do mundo continua relevante; sua voz reivindica urgência em ser ouvida.

3. Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum

Eliane Brum, jornalista, documentarista e escritora, apresenta um livro que mescla relato pessoal e investigação jornalística, urgente na denúncia e defesa da Amazônia, onde reside e se engaja ativamente em sua luta pela sobrevivência. Com vasta experiência como repórter, Brum mergulha nas complexas realidades da maior floresta tropical do mundo, adotando-a como sua casa em 2017, em Altamira, epicentro da destruição pela implantação da hidrelétrica de Belo Monte. Por meio de uma pesquisa rigorosa, denuncia a rápida escalada da devastação, refletindo sobre as ações da minoria dominante que conduzem o planeta ao colapso climático e à sexta extinção em massa. Ao cruzar com diversos habitantes da floresta, destaca como raça, classe e gênero moldam o destino da Amazônia e do mundo. Este livro, essencial para aqueles que buscam respostas em tempos urgentes, é escrito por alguém disposto a arriscar-se em sua busca.

4. Chico Mendes: Crime e Castigo, de Zuenir Ventura

No começo de 1989, Zuenir Ventura viajou ao Acre para investigar o assassinato do seringueiro Chico Mendes, e foi premiado com o Esso de Jornalismo. Quase quinze anos depois, em 2003, Zuenir retornou à região para concluir sua reportagem sobre o líder ambientalista. “Chico Mendes – Crime e castigo” reúne suas reportagens sobre Mendes, reconhecido mundialmente por sua luta pela preservação da Amazônia. Líder dos seringueiros no Acre, ele desenvolveu táticas pacíficas contra o desmatamento para pastagens de gado desde a década de 70. Apesar do reconhecimento internacional, Mendes foi assassinado em 1988. Ventura estrutura o livro em três seções: “O Crime”, “O Castigo” e “15 Anos Depois”, abrangendo desde o assassinato até a procura por justiça e o posterior encontro com os envolvidos.

5. Diário do Clima, de Sônia Bridi

A jornalista Sônia Bridi compartilha as descobertas que fez durante uma viagem de seis meses por catorze países em busca de soluções para o aquecimento global. À época, ela estava acompanhada pelo repórter fotográfico Paulo Zero; a dupla trabalhou junta em uma série de reportagens para o Fantástico, da Rede Globo. Durante a expedição, eles observaram, por exemplo, que na Austrália, houve a substituição do trigo e da pecuária pelo cultivo de frutas de clima seco, o que alterou drasticamente a cultura local. Na Groenlândia, eles testemunharam o desprendimento de blocos de gelo gigantes. Já na Itália, documentaram um projeto para conter as inundações em Veneza. Como jornalistas envolvidos no tema desde a Rio 92, eles se prepararam fisicamente para essa viagem, enfrentando condições adversas nos cinco continentes com o intuito de oferecer uma visão abrangente do problema climático global.

6. Justiça climática, de Mary Robinson

Esta é uma obra fundamental que explora os desafios climáticos atuais, destacando a esperança e resiliência encontradas em meio a essas adversidades. Mary Robinson, renomada advogada e ex-presidente da Irlanda, reúne relatos autênticos de várias partes do mundo (Irlanda, do Quênia, da Lapônia, dos Estados Unidos, do Vietnã e de Kiribati, por exemplo), evidenciando os impactos tangíveis da mudança climática, desde chuvas imprevisíveis até furacões devastadores. O livro enfatiza a importância do diálogo, da empatia e da ação individual e comunitária na busca por soluções sustentáveis.

7. Emergência Climática, Matthew Shirts

Este livro aborda de maneira clara e acessível, com uma linguagem direta e descomplicada, a mudança climática e o aquecimento global, temas de extrema importância para todos nós, uma vez que estamos diante de uma crise iminente. Matthew Shirts, renomado jornalista ambiental, revela como cientistas e ativistas há décadas alertam sobre o aquecimento global e a necessidade de ação rápida para evitar consequências desastrosas. Além disso, o autor oferece uma análise detalhada da emergência climática, abordando questões como os desafios de um acordo global, o papel crucial do ativismo jovem, a relevância do Brasil nesse contexto e as perspectivas para o futuro. Com linguagem acessível e suporte visual, a obra — vencedora do Prêmio Jabuti 2023, na categoria Ciência) — convida os leitores a compreenderem e se engajarem nesse importante debate sobre o destino do nosso planeta.

8. Arrabalde, João Moreira Salles

Nesta obra, o escritor oferece um panorama abrangente do maior bioma nacional, a Amazônia, combinando relatos, entrevistas e pesquisas para destacar as diversas percepções sobre essa região vital. Reconhecida por produzir 20% da água doce do planeta e abrigar milhares de espécies, a Amazônia continua a ser um enigma fascinante para pesquisadores e leigos. João Moreira Salles, após seis meses no Pará, revela como o território tem sido explorado desde os anos 1960, ressaltando a falta de interesse e cuidado que levaram à sua devastação. O livro convida os leitores a contemplarem a floresta em sua complexidade biológica e social, desafiando a visão simplista que predominou em décadas passadas. Este volume é um testemunho das relações dos brasileiros com a Amazônia, defendendo fervorosamente nosso maior patrimônio ambiental e explorando suas potencialidades para o presente e o futuro.

9. Amazônia na Encruzilhada, de Miriam Leitão

Nesta obra, Míriam Leitão, cuja biografia é notória, explora a maior floresta tropical do mundo. Ela destaca sua importância como reservatório de biodiversidade e regulador climático global. Foi a primeira escolhida para o Clube do Livro da Rede Mondó (Falamos mais sobre essa iniciativa em nosso LinkedIn. Confira aqui). A jornalista, que observou a integração crescente entre questões ambientais e econômicas, relata os esforços bem-sucedidos e subsequentes retrocessos no combate ao desmatamento. Com base em pesquisas, entrevistas e experiências pessoais, ela explora o crime ambiental na região, a resistência das agências de proteção e o potencial das tecnologias para monitoramento. Ao dialogar com diversos personagens, desde líderes indígenas a banqueiros, Miriam oferece uma visão abrangente dos desafios e oportunidades que a Amazônia enfrenta. Em meio aos altos e baixos da história recente, a autora destaca a importância de um compromisso renovado com a proteção desse patrimônio natural vital.

Esta é uma lista que poderá ser atualizada futuramente. Se você já leu alguma dessas obras, conte nos comentários o que achou dela! Caso tenha uma indicação que considere necessária para esta lista, envie a sugestão também nos comentários!